Ó Pai, não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizeste
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me veste
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
No templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
para ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me o silêncio da noite
para ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite,
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixe-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito,
sujeito,
artigo definido
De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meu filho
De ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar
Ser meu próprio deus
VIVER MENINO
MORRER POETA.
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